Patrocinadora máster da Juventus, a Jeep vem batendo recordes de vendas com a ajuda de CR7 e planeja contratar o camisa 10 do Barcelona para turbinar ainda mais os negócios da bilionária família italiana Agnelli
Ver Messi e Cristiano Ronaldo jogando juntos seria um sonho para qualquer amante de esporte. E a Juventus, da Itália, é o time com maior possibilidade de realizar a façanha.
Dona da Juventus e da Fiat, a poderosa família italiana Agnelli viu a principal marca do Grupo FCA, que atualmente é a Jeep, crescer como nunca nos últimos anos. E um dos principais garotos-propaganda deste sucesso é CR7, cinco vezes melhor jogador do mundo e que está no clube italiano desde 2018.
Uma negociação dessa magnitude envolve muitos fatores, como o bom desempenho dentro de campo, que aumenta a visibilidade para contratos com diferentes patrocinadores. Mas, por se tratar de uma das famílias mais ricas e influentes da Europa, quanto mais benefícios extracampo a família Agnelli conseguir por meio da Juventus, melhor. O que inclui, é claro, aumentar as receitas da FCA e expandir o mercado da Jeep.
A estratégia de marketing com o português em 2018 e 2019 foi um dos fatores fundamentais para a Jeep conquistar diferentes mercados, principalmente na Europa e na Ásia. As estatísticas não mentem: a marca mais vendida de todo o Grupo FCA no ano de 2019 foi justamente a Jeep.
Com as especulações da vinda de Messi para o clube italiano em 2021, essa tática de expansão global da marca automotiva pode ganhar um reforço de peso e alcançar outro patamar com as duas lendas juntas dentro campo e o poder de marketing que eles têm fora dele. Tal negociação é um sonho declarado de Andrea Agnelli, presidente do clube de Turim. Mas isso também significa assumir um grande risco.
“O efeito CR7” está comprovado em números. Em 2018 e 2019, o grupo FCA bateu recordes de vendas. Em 2018, melhor ano que o grupo já teve, foram 4,7 milhões de carros emplacados pelo mundo, e uma receita de 115,4 bilhões de euros, que corresponde a R$ 680 bilhões na atual cotação.
Já em 2019, o grupo vendeu 2,4 milhões de carros e teve uma receita de 108,1 bilhões de euros, ou R$ 637 bilhões. Apesar da retração na comparação entre os anos, os números foram suficientes para fazer de 2019 como o segundo melhor ano em lucratividade para o grupo FCA.
Em 2018, a Jeep comercializou 1,6 milhão de carros, 12,4% a mais que em 2017. Já em 2019, o número de vendas sofreu uma pequena queda, mas foi o suficiente para ser o segundo melhor ano da marca, com quase 1,5 milhão de unidades vendidas.
Se analisarmos apenas o mercado italiano, o crescimento após a chegada de CR7 é algo quase surreal. De 2017 para 2018, a Jeep aumentou 71% suas vendas no país, com 84.500 emplacamentos. Já em 2019, suas vendas somaram 81.500. Não por acaso, a Juventus é a equipe com maior torcida na Itália e também é a maior vencedora do campeonato nacional, com 36 conquistas (emendando nove conquistas em sequência desde a temporada 2011-2012).
É óbvio que não podemos colocar tudo na conta do craque português, pois a Jeep foi uma das responsáveis por fazer os SUVs se tornarem uma febre no mundo na última década, com um plano agressivo de conquista de novos mercados. Mas o papel de Cristiano Ronaldo nessa expansão é reconhecido pela própria FCA.
“Sem dúvida, o Cristiano Ronaldo com seus milhões de seguidores e fãs em todo o mundo, ajudou a marca a aumentar ainda mais seu reconhecimento, alcançando pessoas menos ligadas ao mundo automotivo. No entanto, é importante considerar que apenas dez anos atrás a Jeep vendia cerca de 300 mil veículos por ano enquanto hoje somos uma marca global que vende cinco vezes esse número”, afirmou a equipe de comunicação da FCA na Itália à Autoesporte.
Messi pode parecer um jogador discreto fora dos gramados, mas é um dos jogadores que mais lucra com sua imagem. O argentino liderou a lista de jogadores de futebol com maior lucro anual em 2019, de acordo com a tradicional revista France Football. Nesses ganhos estão inclusos salários e ganhos publicitários, como os contratos com as empresas de material esportivo. Cristiano Ronaldo é o segundo no ranking.
Na última temporada, Messi faturou 130 milhões de euros e Cristiano Ronaldo 113 milhões de euros. Na somatória, esses 243 milhões de euros correspondem a R$ 1,5 bilhão.
No Instagram, os dois são fenômenos de público. Do total de rendas publicitárias que foram para o bolso de CR7, R$ 259 milhões vieram das 43 publicações patrocinadas nos últimos 12 meses na rede social. É o mais bem pago do planeta. Já Messi fica na segunda colocação, ganhando R$ 158 milhões com suas publicações pagas no Instagram.
No atual contrato, que vigora desde 2012 e vai até 30 de junho de 2021, a Jeep paga a Juventus 17 milhões de euros por ano – cerca de R$ 100 milhões –, mas devido aos resultados financeiros alcançados desde que CR7 chegou ao clube, o patrocínio passou a ser de 25 milhões de euros – R$ 147,2 milhões – para a temporada atual 2019-2020 (parcialmente paralisada por causa do coronavírus) e para a próxima, 2020-2021.
O clube e a montadora já praticamente encaminharam a renovação do contrato a partir de 2021, e o especulado é de que o valor pago possa chegar a 50 milhões de euros por ano, ou R$ 295 milhões, tornando-se assim o segundo maior patrocínio de um clube no mundo, atrás apenas da Chevrolet, que paga cerca de R$ 320 milhões anuais ao inglês Manchester United.
Nessas duas temporadas completas de Cristiano Ronaldo com a camisa da Juventus, a família Agnelli viu o clube aumentar seu valor de mercado, renovar patrocínios com cifras muito superiores às anteriores e garantir o efeito direto nas vendas da Jeep no mundo.
Andrea Agnelli já deu diversas declarações sobre Lionel Messi, inclusive dizendo que era um sonho tê-lo na Juventus. Com a má fase do Barcelona, a crise interna com a diretoria e o encerramento do contrato atual – ainda sem renovação – em 2021, há a possibilidade real do argentino sair do clube catalão, algo até então considerado impensável.
Os riscos
A imprensa europeia noticia diariamente que o camisa 10 do Barcelona pode ter a Itália como destino na próxima temporada. Além da Juventus, a Inter de Milão é a outra equipe cotada para contratar o craque — atualmente, o time é administrado por um bilionário chinês. Diante do assédio milanês, cresce a pressão da torcida para que o time de Turim proporcione ao mundo a oportunidade de ver Cristiano Ronaldo e Messi vestindo a mesma camisa.
Mas o fim de contrato do argentino não significa necessariamente que os custos da negociação serão baixos. Cristiano Ronaldo recebe 31 milhões de euros da Juventus por temporada, ou R$ 194 milhões, enquanto Messi no Barcelona tem rendimentos de 26 milhões de euros, ou R$ 162,7 milhões. Certamente o argentino não viria para receber o mesmo salário ou um valor inferior ao recebido atualmente, o que também refletiria em um possível aumento de salário para CR7.
Essas cifras astronômicas também devem estar dentro das regras do Fair Play Financeiro do futebol, que basicamente tem como objetivo garantir que os clubes consigam manter uma condição financeira que o permita manter pagamentos em dia, seja de atletas, funcionários, impostos ou outros clubes que pertencem a um grupo. O não cumprimento dessas regras podem gerar punições milionárias e suspensão de competições continentais.
No caso dos Agnelli, uma punição dessas geraria um rombo enorme nos cofres e refletiria para outros negócios da família, já que as montadoras são interligadas com o clube.
O objetivo da Juventus é ter um retorno financeiro de 595 milhões de euros com Cristiano Ronaldo até 2024, o que daria R$ 3,5 bilhões. Este, considerado o melhor dos cenários. O custo estimado com ele é de 340 milhões de euros, ou R$ 1,9 bilhão. Esses números incluem vendas de camisas e ingressos, aumento nas ações e renovações de contratos com os patrocinadores e direitos de imagem. Sem contar as premiações que elevariam esses ganhos.
Contratar Messi significa assumir um risco tão grande quanto o investimento em CR7. Como os números mostraram, o interesse de Agnelli com o português também é extracampo, e por enquanto a Jeep vem batendo recordes de vendas com alguma contribuição do português, que também é usado em campanha de marketing. Dentro das quatro linhas, a soberania da Juventus na Itália ainda não se refletiu em competições europeias: a equipe venceu apenas duas vezes a Liga dos Campeões, sendo o último campeonato conquistado em 1996.
Em termos de exposição para a Jeep, a dupla Cristiano Ronaldo e Messi pode atingir patamares de alcance jamais alcançados por outra montadora no esporte. Resta saber se o chefão do Grupo FCA assumirá um risco desses em meio a uma crise provocado pela pandemia do coronavírus que também está afetando o futebol e além disso, terá a difícil missão de convencer Messi a sair do Barcelona. Enquanto isso, o mundo aguarda ansiosamente o privilégio de ter essas duas lendas do futebol jogando juntos em um mesmo time.