Adeus, Uber e 99? Motoristas de app de SP vão inaugurar aplicativo próprio com taxas melhores

    |Fonte: Automotive Business|

    Com previsão de lançamento em abril, app será parceria com empresa privada e terá taxas melhores para os motoristas

    Em fevereiro deste ano, uma reportagem da agência de notícias francesa AFP revelou que a Amasp (Associação de Motoboys e Motoristas de Aplicativos de São Paulo) estaria planejando para março, em parceria com a empresa Me Busca, um novo aplicativo de viagens para concorrer com Uber e 99.

    Março veio e o novo app não se materializou. Em entrevista exclusiva a Mobility Now, o presidente Eduardo Lima conta que a Amasp decidiu encerrar a parceria com a Me Busca por entender que a empresa não conseguiria atender com eficiência um projeto que englobasse toda a cidade de São Paulo e seus 12,3 milhões de habitantes. Entre os fatores que pesaram na decisão estavam dúvidas sobre a capacidade da Me Busca de investir em marketing para divulgar o novo serviço.

    Agora, a Amasp está na fase final de negociação com outra empresa para colocar o app no mercado, com nova previsão para o final de abril. A parceria tem a mesma lógica da anterior: a Amasp traz os motoristas parceiros e a empresa traz o aplicativo e a tecnologia. “Estamos atendendo um anseio dos motoristas”, afirma Lima. “O motorista pediu para que trouxéssemos uma empresa específica e é com ela que estamos fechando”, conta ele, sem poder divulgar ainda o nome da companhia.

    Como o novo app vai funcionar

    Com cobertura em todo o estado de São Paulo, o novo app irá ficar com 10% do valor das corridas e repassar 90% aos motoristas. Atualmente, Uber e 99 ficam com entre 14% e 50% desses valores, o que incomoda os motoristas, uma vez que a inflação desenfreada e as constantes altas no preço do combustível diminuíram sua renda e sua qualidade de vida.

    Mas essa não será a única vantagem para os parceiros. “A maior vantagem que o app vai trazer é que ele será um aplicativo humanizado”, afirma Lima. “Vai vir não só para ganhar dinheiro, mas para literalmente cuidar do motorista. Com clube de parcerias, pacote de benefícios, etc. A Amasp vai ser intermediadora dos motoristas junto à plataforma, ou seja, todos os problemas que os motoristas tiverem, eles poderão ter ajuda da Amasp”, descreve ele.

    Segundo Lima, hoje a comunicação entre os motoristas e as operadoras dos aplicativos é muito difícil.

    “Uber e 99, a gente até manda alguns casos para essas empresas, mas existe uma burocracia gigantesca para sermos atendidos, e nisso quem está sofrendo é o motorista, que fica parado sem trabalhar. No nosso aplicativo, o condutor vai ter seu problema resolvido de forma muito ágil, até mesmo em casos de exclusão. A Amasp vai ter poder para decidir se esse motorista pode voltar ou não”, afirma o presidente da associação.

    Situação “insustentável”

    A chegada do app da Amasp é mais uma reação dos motoristas ao aumento crescente no preço dos combustíveis, o qual faz diminuir sua renda. “Ficou insustentável. Para o motorista se manter nesse trabalho, ele precisa escolher as corridas. Porque tem corridas que geram certo lucro, mas tem corridas que geram prejuízo”, afirma Lima.

    Ele nos forneceu um exemplo: “Uma pessoa vai fazer um percurso de 1 km e chama o carro de aplicativo. O motorista que recebe a corrida pode estar muito distante da pessoa, de 10 a 11 km, mas aceita pra saber para onde o passageiro vai. Dependendo da localidade, se a viagem for longa, a rentabilidade é boa. Aí o motorista aceita, mas quando vê que a pessoa vai rodar 1 km, ele faz o cálculo rápido de que vai andar 10 km para pegar o passageiro e 1 km para fazer a corrida, totalizando 11 km, ganhando R$ 6, ou R$ 6,50. Nisso ele vai gastar quase 2 litros de gasolina e o litro está R$ 6,29, por aí. Ou seja: vai gastar R$ 12 e pouco pra ganhar R$ 6,50. É por esse motivo que o motorista cancela com frequência. Ele só sabe para onde o passageiro vai quando aceita a corrida”, descreve.

    Segundo Lima, houve diversas tentativas de levar os questionamentos e necessidades dos motoristas a Uber e 99, mas dificilmente as empresas ouviam os parceiros. “De 2019 para cá, a gente não foi mais ouvido”, diz ele, que afirma querer “resgatar a autoestima” dos motoristas, os quais se sentiriam humilhados com as atuais condições de trabalho.

    No Brasil, estão se proliferando apps locais para fazer frente à hegemonia de Uber e 99. Além do caso da Bibi Mob, que atua em 67 cidades e faz repasses maiores aos motoristas, também temos a Ubiz Car, que atua em 20 cidades de Sudeste e Nordeste, a Bora 94, a qual opera em alguns municípios do interior paulista, a On Mobi, que atua na Região dos Lagos do RJ, a Chofer 46, que está baseada no Sul do país, e muitas outras, pulverizadas em várias localidades.

    Para os passageiros, essas opções menos famosas acabam sendo interessantes porque os índices de cancelamento são menores e o atendimento costuma ter um nível melhor ou igual que em Uber e 99. “O atrativo para o passageiro é que ele vai fazer o chamado e ser atendido”, resume Lima.