Com a corrida pela eletrificação, uso de materiais “veganos” se torna mais presente na indústria automotiva em baterias e acabamentos internos
Usar fibras orgânicas em peças de acabamento e nos tecidos dos bancos não chega a ser uma novidade nos carros. Isso já ocorre (em maior volume) há mais de uma década, inclusive nos modelos nacionais. Mas, a eletrificação e a corrida pela neutralização do carbono têm feito as marcas de carros e mesmo os fabricantes de componentes, como pneus, intensificarem a criação de materiais “veganos”. Ou seja, de origem natural e renovável.
Mesmo modelos de segmentos mais luxuosos, como os elétricos Volvo XC40 e C40, já descartam o uso de couro animal e qualquer componente nocivo ao meio ambiente. Inclusive, o C40 é considerado o primeiro carro vegano da marca sueca. Além do conjunto de baterias, o SUV-cupê não possui couro ou madeira na sua composição. Exemplo disso é o tecido misto sintético chamado Mucrotech, que mistura polímero e fibra de seda no revestimento dos bancos, da alavanca do câmbio e do volante.
É importante dizer que, até o momento, não existem automóveis 100% sustentáveis. Afinal, a maioria ainda utiliza materiais como lã, muito comum nos estofamentos da parte interna dos veículos. No entanto, as marcas estão buscando alternativas para oferecer produtos e serviços cada vez mais ecológicos e inovadores. Na Mercedes-Benz, por exemplo, o SUV elétrico EQC utiliza borrachas naturais e garrafas PET para revestir os bancos.
Parte do luxo?
Movimento indispensável para o futuro da indústria, a utilização de materiais sustentáveis traz diversas soluções para o mercado. E até se torna um chamariz para os carros. Na BMW, modelos como o elétrico i3 já seguem nessa linha há um bom tempo. Mas, vale destacar o novo iX, que usa energia renovável em todos os seus processos, além de materiais reciclados na sua construção. O SUV parrudo, que estrou recentemente no Brasil, tem o interior composto por madeira certificada, couro tingido com extratos de folha de oliveira e outros materiais naturais.
“O projeto dos motores elétricos que equipam o iX permite que o uso de materiais não sustentáveis sejam evitados no sistema de acionamento. Além disso, a empresa obtém alumínio produzido com usinas de energia solar. Uma alta proporção de alumínio e plástico reciclável também contribui para a produção eficiente de recursos do BMW iX”, comentou Gleide Souza, Diretora de Relações Governamentais do BMW Group LATAM.
Embora seja um processo gradual, o fato é que, hoje, não é possível projetar modelos e novas estratégias sem um planejamento sustentável. E isso também acompanha as novas exigências como a Proconve L7 aqui no Brasil, que exige (desde janeiro deste ano) níveis mais baixos de gases do escapamento – como monóxido de carbono e aldeídos.
“O BMW Group tem metas claras de sustentabilidade, dentro da nossa estratégia global, chamada de Neue Klasse (nova classe). Em números, tendo como referência o ano de 2019, queremos reduzir em 80% as emissões de CO2 na produção, em 50% no uso dos veículos por quilômetro rodado e em 20% na nossa cadeia de fornecedores”, finalizou Souza.
Inovar é exigência
Como dissemos, o conceito sustentável vem ganhando força entre as marcas, mas não é algo que se iniciou recentemente. A Renault, por exemplo, abandonou o uso do couro animal em 2015 e não fabrica nenhum modelo com esse material no mercado brasileiro. E isso se intensifica ainda mais na Europa, onde modelos elétricos, como o Mégane, possuem plásticos e revestimentos reciclados, o que pode fazer com que o veículo seja cerca de 95% reaproveitado.
Enquanto isso, Citroën e Peugeot, agora marcas do grupo Stellantis, trabalham com uma pequena taxa de modelos que ainda utilizam couro, que chega a ser de 5%. No mais, não utilizam materiais de origem animal, como a lã. Nessa linha, cabe citar também a nova Volkswagen Kombi elétrica, a ID.Buzz, que começou a ser produzida na Alemanha. A van utiliza bases sustentáveis nos bancos, tapetes, painéis de portas e painel frontal.
Para ilustrar o envolvimento das marcas com a sustentabilidade nos carros, a Dicklovett – grande rede de concessionárias inglesa – realizou um levantamento, em janeiro deste ano, das montadoras com os veículos mais sustentáveis. De acordo com o estudo, a Ford ficou em primeiro lugar, com 28 modelos que usam materiais ecológicos, com liderança para o Mustang Mach-E, primeiro modelo da fabricante com o interior 100% livre de animais. A pesquisa também cita Honda, Nissan, Chevrolet, Hyundai, Kia, Toyota e Citroën entre as 10 primeiras no ranking.
GoodYear lança pneus sustentáveis
Encontrar soluções sustentáveis se tornou uma missão não apenas das montadoras, mas para toda a indústria automotiva em geral. Por isso, fabricantes de componentes de veículos também avançam nesse segmento. É o caso da Goodyear, que acaba de lançar o Wrangler Workhorse AT, primeiro pneu com óleo de soja na composição.
Feito exclusivamente para equipar picapes e SUVs, a utilização do óleo tem como intuito substituir o petróleo na fabricação. Mas, além de ajudar o meio ambiente, o novo pneu – feito em Americana (SP) – promete melhor performance em relação ao modelo antigo, o Wrangler Armortrac. Dessa forma, a empresa afirma que ele se sobressai em questões de quilometragem e dirigibilidade em piso molhado, e oferece maior tração em todos os terrenos.
De acordo com a Goodyear, o novo pneu foi feito para o uso misto. Ou seja, roda tanto no chão pavimentado quanto em terrenos acidentados. Para isso, houve melhora na estrutura e no design do modelo, que conta, assim, com blocos mais largos. Com a nova tecnologia, o pneu apresenta vantagens e melhorias nos testes. Segundo a marca, o Workhorse AT tem quilometragem 20% maior em relação ao antigo modelo, bem como 22% a mais de aderência em curvas e 4% nas frenagens em piso molhado. Outro destaque é auxílio no consumo de combustível, 4,6% melhor que antes.